Nove passos para impor limites aos filhos

Educar crianças não é tarefa simples. Saber a hora de dar uma bronca é algo tão importante quanto dar carinho e atenção. Muitas vezes, os pais desperdiçam mais energia do que deveriam, na tentativa de impor limites. Para evitar situações como essa, a psicóloga neozelandesa Diane Levy, autora do livro “É Claro que eu amo você… Agora vá para o seu quarto!” (Editora Fundamento) e especialista no aconselhamento de pais, detalha o que é efetivamente útil e o que é apenas cansativo no trato com os filhos.

Em entrevista à jornalista Camila de Lira, do IG São Paulo, Diane Levy afirmou que “há um bom punhado de coisas que fazemos ao tentar educar as crianças e que simplesmente não ajudam. Quando você evita explicar muito, avisar muito, adular, subornar, ameaçar e punir, você poupa tempo e energia e mantém a sua dignidade como pai ou mãe. Quando você pede, diz e deixa a distância emocional fazer o trabalho, suas crianças rapidamente aprenderão que quando você pede que eles façam algo – ou que pare de fazer algo – eles não têm alternativa a não ser fazê-lo”.

De acordo com a terapeuta, que é mãe e avó, reconhecer e evitar estratégias exaustivas e inúteis torna os pais mais convincentes em suas ordens ou instruções. Abaixo, são destacados – na íntegra – os conselhos dados por Diane Levy durante a entrevista ao IG São Paulo.

1. Não se explique demais
 “Quando pedimos para a criança fazer algo ou para parar de fazê-lo, nosso hábito é de seguir com uma grande explicação, de por que tal ação é necessária. Se nossos filhos não respondem à primeira explicação, pensamos que ela não teve apelo para eles (ou que eles apenas não a entenderam) e, então, gastamos tempo e energia em tentar convencê-los novamente”, explica Diane.

Se a criança não entendeu porque esta sendo solicitada a fazer ou deixar de fazer algo, dificilmente ela será convencida por mais e mais explicações. O que ela precisa entender é que tudo o que você pede é para o bem dela – e assim será até ela crescer.

2. Não dê mais de um aviso
“Ao dar várias chances e avisos, nós mostramos às crianças que não acreditamos naquilo que dizemos e que não esperamos uma ação efetiva até darmos muitos e muitos avisos”, comenta Diane. “A maioria das crianças entende que, enquanto os pais estão nesse ‘modo avião’, nada irá acontecer com elas”. Portanto, seja firme!

3. Não adule
Você se pega usando frases como “se você arrumar seu quarto, ganha um chocolate” ou “faça toda lição e te dou um brinquedo” com frequência? Pense melhor. “Quando os adultos se esforçam adulando e coagindo as crianças para que elas façam o que devem, isso significa que só os pais estão fazendo o trabalho duro. Enquanto os filhos esperam uma recompensa convincente o bastante para encorajá-los a começar uma tarefa que não é mais que obrigação deles.”

4. Não suborne
As crianças devem ser acostumadas a agir dentro de um senso de obrigação. “Se o único jeito de conseguirmos fazer com que as crianças façam o que mandamos é oferecendo algo, nos deixamos vulneráveis a ter que pensar em maiores e melhores ‘mimos’ com o tempo. Além disso, essa ação dá às nossas crianças a permissão de perguntar ‘o que você me dará se eu fizer isso?’. E esse não é um bom hábito para se encorajar”, resume Diane.

5. Não ameace
Alguns pais ameaçam com “se você não fizer isto isso… eu irei…”. Diane explica que, assim, você abre um contrato e isso dá margem para a criança negar a oferta. “Aprendi essa lição muito cedo com meu primeiro filho. Quando dizia ‘Robert, se você não guardar seus brinquedos agora, não iremos ao parque essa tarde’, ele apenas respondia ‘tudo bem’. E eu ficava sem saber para onde ir”, relembra.

“Outro problema em ameaçar é que, se você fala que irá fazer algo, é obrigado a cumprir isso. A maioria das ameaças que tem como objetivo persuadir a criança a fazer o que foi pedido nos pune mais do que a elas”, explica Diane. E exemplifica: “Os pais ameaçam: Se você não fizer isso imediatamente, não verá mais TV pelos próximos três dias. É mais provável que a vida de quem fique mais difícil com essa ameaça?”.

6. Não puna
Segundo Diane, algumas crianças aprendem por meio das punições, mas muitas se tornam ressentidas, irritadas e se sentem tratadas de forma desleal. “Também, se usarmos a punição, nossos filhos podem simplesmente aprender como aguentá-las – e voltarem a fazer aquilo que tentamos evitar”, afirma.

Mas se os pais deixarem de explicar, avisar, adular, subornar, ameaça e punir, o que eles podem fazer? Diane sugere uma estratégia simples, com três passos: peça, diga e aja.

7. Peça uma vez só
Diane recomenda que os pais simplesmente peçam o que deve ser feito e observem a resposta do filho. Isso dará a eles uma formação importante. “Quando as crianças se negam a fazer o eu foi pedido, eles usualmente expressam uma das três formas a seguir: tristeza, irritação ou distanciamento”, ensina.

A tristeza é simbolizada por chateação. “Eles parecem ofendidos e dizem ‘por que eu?’”, descreve. A irritação se manifesta em confronto: “eles discutem e acusam você de ser injusto com eles.” O distanciamento é caracterizado por indiferença. “Eles ignoram você, olham para outro lado e continuam o que estão fazendo”, completa Diane. “Tudo isso significa que a criança não fará aquilo que pediu.” Mas como reagir?

8. Diga de maneira enérgica
“Vá até o seu filho – isso pode ser um pouco difícil para os pais, pois significa que eles terão que parar aquilo que estavam fazendo, levantar e ficar do lado da criança”, orienta Diane. Segundo ela, a presença próxima vale a pena. “Uma vez que aparecemos perto da criança, ela sabe que isso significa que ela terá que fazer o que foi pedido”. A autora recomenda que os pais falem baixo – isso mostra que eles estão no controle tanto da própria voz quanto da criança – e que olhem seu filho nos olhos.

9. Aja
Se seu filho não respondeu a nenhuma das ações anteriores, você precisa fazer algo. “A coisa mais efetiva que você pode fazer é usar a  chamada ‘distância emocional’ até que ele esteja pronto para fazer o que foi pedido”, aconselha Diane.

“Pegue-o no colo ou pela mão e o leve para o quarto. Diga firmemente ‘você será bem-vindo para se juntar à família assim que estiver pronto para fazer o que pedi’, e deixe-o sozinho”, completa. Lembre-se: o seu filho tem o poder de se reunir à família ao fazer o que lhe foi pedido.

Quando as crianças são maiores – e tirá-las do lugar é mais difícil – Diane recomenda que os pais apenas determinem consigo mesmos: “eu não farei nada até que ele esteja pronto para fazer aquilo que eu pedi”. E continuem com o que estiverem fazendo, normalmente. “Quando a criança aparecer com um pedido, você pode calmamente lembrá-la de que ficaria feliz em atendê-la, assim que ela fizer aquilo que foi estabelecido (e ignorado) anteriormente”, diz a autora. “Ele pode fazer duas ou três tentativas para chamar sua atenção, mas vai acabar entendendo que precisa fazer o que foi solicitado pelos pais, finaliza”.

REFERÊNCIAS
COLANTÔNIO, Camila de Lira. 9 passos para impor limites aos filhos. IG Delas, 2011. Disponível em https://delas.ig.com.br/filhos/educacao/9-passos-para-impor-limites/n1237982354564.html. Acesso em: 20 mar. 2021 

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